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A educação do futuro chegou

Publicado em: 13/05/2020

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Até março passado, o ritual sempre foi o mesmo, independente da cidade, do estado, do tipo de escola. Primeiro dia de aula: alunos são recepcionados e encaminhados para seu local de estudo. Ali são dadas as boas-vindas e apresentadas as equipes, os conteúdos, a grade do curso e períodos, além da metodologia empregada. À frente da sala, a equipe pedagógica passa as orientações, procurando motivar o grupo, acerca do que virá nos próximos meses. Do outro lado, uma plateia de alunos, não necessariamente envolvida ou desejando muito estar ali. Iniciam as aulas e todos enfileirados, um olhando para a nuca do outro, procuram entender o sentido dessa trajetória e onde e como devem chegar ao término desse processo.

Agora imaginem o oposto: os alunos chegam na escola. São recepcionados por outros alunos, que explicam que ali não existe classe, nem séries, nem mesmo grade fixa de aulas. Cada qual deve escolher e criar seu itinerário de aprendizagem e após o encerramento dos ciclos, realizar uma autoavaliação e decidir conjuntamente com o professor, como deve e quer comprovar as competências adquiridas. Finalizando, esclarecem a todos que aproximadamente 20% de todo período letivo será desenvolvido de forma remota, em casa, através de plataformas e ferramentas educacionais.

Sem ter o intuito de generalizar, pois temos experiências diferenciadas e em busca de um novo modelo educacional acontecendo em toda parte, o primeiro cenário que descrevi é o vigente na maioria de nossas salas de aulas e instituições educacionais atualmente, ou seja, um modelo pedagógico que se esforça para atender as expectativas de alunos do século 21, com professores aplicando metodologias do século 20 e estrutura do século 19.

O segundo modelo, que parece ser bastante utópico, já existe e acontece em pelo menos 100 boas escolas, com excelentes resultados, só no Brasil.

A eminência de modelos alternativos e com filosofia pautada num sistema de comunidade de aprendizagem torna-se urgente, pois educar na atualidade, a partir da tradição escolar vigente há séculos, configura-se um desafio que parece estar acima de nossas possibilidades.  Parece estranho, improvável, mas essa ideia de educação livre e leve, exige investigação e experimentação, caso contrário, não conseguiremos migrar para um universo educacional que responda às expectativas desse novo alunado.

O primeiro passo rumo a uma educação do futuro é a transformação do papel do professor em mediador e não mais, no detentor do saber, que ali está para ensinar tudo e cobrar o que foi assimilado, ou melhor, decorado, ao final do processo. Esse novo educador, precisa garantir espaço para participação efetiva de seus alunos, que devem colaborar para a construção do conhecimento e não apenas recebê-lo como uma receita de bolo ou conteúdos exaustivos numa lousa, ou na atualidade, os entediantes e intermináveis arquivos do PowerPoint.

A próxima etapa seria a participação protagonista dos alunos no planejamento escolar e definição das estratégias de aprendizagem e avaliação. Parece improvável? Nem tanto. Quando você sugere que eles definam como devem estudar e como devem ser avaliados, o comprometimento assume outro patamar, pois sentem-se corresponsáveis pelo processo como um todo e passam a dedicar-se naturalmente, para que suas propostas tenham sucesso. Também existe a necessidade de inserção da família e comunidade de forma geral nessa caminhada, ou seja, todos trabalhando para uma educação que faça sentido e transforme a vida das pessoas.

Pois bem, a educação sempre sofreu suas transformações de forma lenta, mas hoje, temos milhões de alunos em casa devido à Covid-19, que precisaram aprender a aprender mais uma vez e de uma forma totalmente remota. A pandemia que tanto nos assusta, está forçando essa transformação de dentro para fora dessa vez e, certamente, as escolas serão diferentes quando as atividades presenciais retornarem. Nunca foi tão necessária a apresentação da competência chamada autonomia por parte do aluno, bem como a da criatividade para os professores.

As instâncias educacionais, necessariamente, deveriam acompanhar todas essas transformações como missão, mas hoje, abraçam novas possibilidades de educação, principalmente através de aparatos tecnológicos e da virtualidade, afinal, é o único meio possível por hora. 

Quando ouço a pergunta que sempre ronda o metiê educacional, se para fazer uma boa educação precisamos de uma árvore ou de um castelo, penso que uma das respostas possíveis é: precisamos de pessoas que queiram modificar e transformar esse processo e que criem ambientes colaborativos, permitindo que o aluno seja nosso maior protagonista neste processo, onde quer que estejam, inclusive, na segurança de seus lares.

Que tal então, caminharmos juntos rumo a uma educação para o século 21, afinal, já deveríamos tê-la.

*João Carlos Goia é gerente do Senac Piracicaba, jornalista pós-graduado em Criação de Imagem e Sons em Mídias Digitais e mestre em Educação.